Ou meu espírito natalino fluiu bem nesses dias, ou "Era uma vez" é um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos.Confesso que não fico muito entusiasmado para assistir produções brasileiras, foram poucas que me fizeram sentir prazer e imensa satisfação do nosso cinema, posso destacar Cidade de Deus, claro, Olga, Tropa de elite e o mais recente Verônica, aliás também protagonizado por Andréia Beltrão e no meu modo de ver bem superior a Salve geral, expectativa brasileira no Oscar 2010, e tenho que admitir: é uma experiência única poder se sentir maravilhado com um filme nacional e Era uma vez me fez sentir isso.
A trama pode parecer simples: Dé (Thiago Martins, grande ator, interpretação maravilhosa), um rapaz pobre e honesto, morador de um morro na Zona Sul do Rio, conhece e de imediato se apaixona pela doce Nina (a novata Vitória Frate), filha de um rico empresário. Em meio à paixão arrebatadora que toma conta dos dois, o diretor Breno Silveira (Dois filhos de Francisco) lança uma série de conflitos como plano de fundo, a começar pela dura infância de Dé ao ver um de seus irmãos sendo morto covardemente por marginais do morro, e seu outro irmão, Carlão (Rocco Pitanga) ser preso injustamente e mais tarde entrar para vida do tráfico. O preconceito, como não podia ser diferente, ganha destaque na história, mas de uma maneira diferente, já que há sim uma indignação por parte do pai da menina, mas há também a tolerância e acabamos por não tirar a razão dele, soa bem positivo a atitude do pai, creio eu.
Não escondo para ninguém meu interesse por personagens mais humanos e Breno consegue o feito de humanizá-los. A atuação de Thiago é perfeita, talvez ele até tenha uma certa facilidade em viver personagens com um nível de carga dramática lá em cima, pois cresceu em comunidade e ele mesmo explica nos créditos finais toda sua trajetória até entrar no grupo nós do morro, uma espécie de ONG que visa integrar jovens de comunidades carentes à arte e cultura, inclusive já revelou grandes talentos, porém o mais interessante é que o ator foi aceito no último teste, pois nos anteriores, Breno Silveira, o considerou bonito demais para fazer o Dé. Então o ator ficou exposto ao sol por 5 horas na praia do Leblon e com o novo aspecto conseguiu o papel. Vitória Frate é uma graça, não a conhecia, porém fiquei sabendo que seu último trabalho em Caminho das Índias, novela global, foi bastante elogiado (como não sou chegado em novelas, perdi), mas com certeza estarei acompanhando-a daqui pra frente. Rocco Pitanga é uma grata surpresa e ele é sublime ao dar vida ao polêmico Carlão, algumas vezes chega a colocar o romance dos protagonistas em segundo plano, graças a sua interpretação.Muitos dizem que nossos roteiros ainda estão em fase de desenvolvimento, mas aqui acredito que não haja furos ou pontas soltas, já que a intenção do diretor era criar um conto de fadas urbano, um Romeu e Julieta "acariocado". Ao mesmo tempo que vemos um baile funk com músicas bem lights e os dois flertando nesse mesmo ambiente, assistimos ao casal admirando a vista previlegiada no alto do morro e consequentemente tendo sua primeira noite de amor numa laje. Acredito que o maior erro de Breno Silveira tenha ocorrido nos minutos finais, onde a história toma um rumo diferente, se torna agressiva aos nossos olhos e o que ocorre no filme inteiro, toda aquela mensagem que a trama carrega, é descaracterizado numa cena infeliz.
Bem, o que faltou em Dois filhos de Francisco, a emoção, sobra em Era uma vez. Pena que o filme não foi escolhido para representar o cinema brasileiro no Oscar, aliás acho que nunca vou entender o critério de escolha, já que fomos infelizes com os últimos representantes. Enquanto O ano em que meus pais saíram de férias entrava na lista dos indicados a melhor filme estrangeiro, Tropa de elite ganhava o Urso de Ouro em Berlim. Vai entender né?!
























