sábado, 26 de dezembro de 2009

Romeu e Julieta nos dias de hoje

Ou meu espírito natalino fluiu bem nesses dias, ou "Era uma vez" é um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos.

Confesso que não fico muito entusiasmado para assistir produções brasileiras, foram poucas que me fizeram sentir prazer e imensa satisfação do nosso cinema, posso destacar Cidade de Deus, claro, Olga, Tropa de elite e o mais recente Verônica, aliás também protagonizado por Andréia Beltrão e no meu modo de ver bem superior a Salve geral, expectativa brasileira no Oscar 2010, e tenho que admitir: é uma experiência única poder se sentir maravilhado com um filme nacional e Era uma vez me fez sentir isso.

A trama pode parecer simples: Dé (Thiago Martins, grande ator, interpretação maravilhosa), um rapaz pobre e honesto, morador de um morro na Zona Sul do Rio, conhece e de imediato se apaixona pela doce Nina (a novata Vitória Frate), filha de um rico empresário. Em meio à paixão arrebatadora que toma conta dos dois, o diretor Breno Silveira (Dois filhos de Francisco) lança uma série de conflitos como plano de fundo, a começar pela dura infância de Dé ao ver um de seus irmãos sendo morto covardemente por marginais do morro, e seu outro irmão, Carlão (Rocco Pitanga) ser preso injustamente e mais tarde entrar para vida do tráfico. O preconceito, como não podia ser diferente, ganha destaque na história, mas de uma maneira diferente, já que há sim uma indignação por parte do pai da menina, mas há também a tolerância e acabamos por não tirar a razão dele, soa bem positivo a atitude do pai, creio eu.

Não escondo para ninguém meu interesse por personagens mais humanos e Breno consegue o feito de humanizá-los. A atuação de Thiago é perfeita, talvez ele até tenha uma certa facilidade em viver personagens com um nível de carga dramática lá em cima, pois cresceu em comunidade e ele mesmo explica nos créditos finais toda sua trajetória até entrar no grupo nós do morro, uma espécie de ONG que visa integrar jovens de comunidades carentes à arte e cultura, inclusive já revelou grandes talentos, porém o mais interessante é que o ator foi aceito no último teste, pois nos anteriores, Breno Silveira, o considerou bonito demais para fazer o Dé. Então o ator ficou exposto ao sol por 5 horas na praia do Leblon e com o novo aspecto conseguiu o papel. Vitória Frate é uma graça, não a conhecia, porém fiquei sabendo que seu último trabalho em Caminho das Índias, novela global, foi bastante elogiado (como não sou chegado em novelas, perdi), mas com certeza estarei acompanhando-a daqui pra frente. Rocco Pitanga é uma grata surpresa e ele é sublime ao dar vida ao polêmico Carlão, algumas vezes chega a colocar o romance dos protagonistas em segundo plano, graças a sua interpretação.

Muitos dizem que nossos roteiros ainda estão em fase de desenvolvimento, mas aqui acredito que não haja furos ou pontas soltas, já que a intenção do diretor era criar um conto de fadas urbano, um Romeu e Julieta "acariocado". Ao mesmo tempo que vemos um baile funk com músicas bem lights e os dois flertando nesse mesmo ambiente, assistimos ao casal admirando a vista previlegiada no alto do morro e consequentemente tendo sua primeira noite de amor numa laje. Acredito que o maior erro de Breno Silveira tenha ocorrido nos minutos finais, onde a história toma um rumo diferente, se torna agressiva aos nossos olhos e o que ocorre no filme inteiro, toda aquela mensagem que a trama carrega, é descaracterizado numa cena infeliz.

Bem, o que faltou em Dois filhos de Francisco, a emoção, sobra em Era uma vez. Pena que o filme não foi escolhido para representar o cinema brasileiro no Oscar, aliás acho que nunca vou entender o critério de escolha, já que fomos infelizes com os últimos representantes. Enquanto O ano em que meus pais saíram de férias entrava na lista dos indicados a melhor filme estrangeiro, Tropa de elite ganhava o Urso de Ouro em Berlim. Vai entender né?!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nada será como antes: estréia AVATAR!

Acabo de chegar da estréia de Avatar, super produção de James Cameron que desde já promete abalar as estruturas no mundo das mega produções hollywoodianas. Mais que um show de tecnologia, Avatar é uma obra que merece ser degustada uma, duas, três vezes, mais do que isso, teríamos que pagar novamente o ingresso ao deixar o cinema.

A expectativa em torno do filme era imensa: afinal se tratava de James Cameron, autor de Aliens: o resgate (na minha opinião o melhor da franquia), Exterminador do futuro 1 e 2 (que já era considerado um passo a frente dos efeitos especiais da época) e o fenômeno mundial Titanic, pelo tempo e custo da produção (foram doze anos de espera e quatro anos produzindo o filme, com um orçamento na casa dos 500 milhões), e também a promessa de um espetáculo único. E podem acreditar, Cameron cumpriu com a palavra, eu diria que fez mais que isso.

A trama se passa no futuro, num planeta chamado Pandora, onde já existe uma base militar e constantes tentativas de invasão, na busca por um valioso minério encontrado apenas alí. Nessa base há também cientistas que mantém um estudo aprofundado sobre os Na'Vis, a raça mais evoluida do planeta. São exatamente esses cientistas que criam um programa em que é possível um humano controlar um ser criado em laboratório, idêntico a um Na'Vi, uma hipótese que de imediato agrada aos militares, que nomeiam Jake, um ex-fuzileiro naval paraplégico (O ótimo Sam Worthington, de exterminador do futuro: a salvação), para assumir a equipe de Grace (Sigourney Weaver em mais um show de interpretação) e se infiltrar naquele mundo. A partir daí se inicia o espetáculo de Pandora.

A direção de arte nos enche os olhos, todo o mundo criado por Cameron é algo nunca antes visto no cinema e por mais que o roteiro apresente uma idéia um tanto batida (Dança com lobos, o último samurai), somos capazes de nos emocionar e acreditar que estamos vendo interpretações "reais" por parte das criaturas, é tudo muito verdadeiro, um espetáculo único. O prazer de ver a cena em que Jake assumi seu avatar pela primeira vez pode ser comparado com a primeira vez que assistimos os dinossauros de Jurrasic Park, o embarque no Titanic, e a Terra Média de O senhor dos anéis... Incrível. A perfeição é tanta que muitas vezes nos perguntamos o que é real e o que é criado por computador. A personagem de Zoe Saldana é incrível, difícil imaginar que apenas a voz dela é concreta. A fisionomia dos Na'Vis em geral é algo extraordinário, a semelhança do Avatar de Sigourney, a expressão e tudo mais, é fantástica.

James Cameron novamente deu um passo a frente da tecnologia, com certeza deixou marcas que serão relembradas a cada novo blockbuster lançado, e uma coisa é certa: se os diretores atuais especializados em espetáculo visual, já sofrem com a crítica, agora terão que pensar duas vezes antes de levar um projeto para frente, e com relação a roteiro, Cameron provou que nem só de alta tecnologia vive esse cinema, é preciso fazer uma platéia se emocionar, vibrar com as mais diversas situações e ao fim arrancar aplausos de uma sala de cinema lotada.

Um romance na contramão

500 dias com ela é uma maneira divertida e ao mesmo tempo diferente de se contar uma história de amor. O filme foge a todas as regras dos romances tradicionais, o convencional aqui não existe, já que somos apresentados ao casal da trama de uma maneira quase surrealista.

Joseph Gordon-Levitt (cada dia mais parecido com Heath Ledger) vive Tom, um cara pacato que passa a maior parte de seu tempo criando frases para cartões comemorativos, e nas sobras do tempo procura um novo amor. É exatamente na empresa em que trabalha que conhece Summer (daí o porque do titulo, e quem esperava por um amor de verão...), a correta Zooey Deschanel, uma menina nada convencional, que se veste como Lily Allen e ama Ringo Star (papel perfeito para Zooey, diga-se de passagem). De início a quimica rola perfeita, mas logo as coisas começam a se complicarem e o relacionamento dos dois é abalado por algum motivo. Isso tudo acontece em apenas 10 minutos de trama, já que o evento é narrado de uma maneira não linear, focando sempre nos principais dias do relacionamento.

O filme gira nesse sentido, mostrando a relação do antes e depois, da constante paixão e logo a frieza e decepção estampada nos rostos dos protagonistas. Uma cena marcante é a que Tom sai pelas ruas cantando e dançando juntamente com outras pessoas, num ritmo de musical (até animações se misturam), logo após ter a primeira noite de amor com Summer. A cena pode ser entendida como uma metafora representando o que os jovens sentem em momentos como aquele.

Pode parecer caricato demais, porém 500 dias de amor aparece como romance do ano de uma maneira honesta e sentimental. Todos nós já passamos por aquilo, todos nós tempos um pouco da doidera de um ou de outro. As vezes a trama parece seguir pela contramão, mas aí é questão de arriscar, e nisso o estreante Marc Webb acertou em cheio e nos mostrou um relacionamento carregado de honestidade e sinceridade, mesmo que de uma maneira inversa ao habitual, aqui é o homem o sonhador da vez, ele que nutre uma paixão arrebatadora, e é ele que sofre com a duvida de um amor não correspondido.

O filme tem tudo para agradar, não só aos fãs do gênero, mas também os amantes de filmes que nos surpreendem, nos desafiam... Até agora vem agradando, já concorre ao Globo de Ouro e o Oscar é logo alí...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Globo de Ouro 2010


Foram divulgados nesta terça-feira (15/12) os filmes que concorrerão ao globo de ouro 2010. O longa Up in the air, estrelado por George Clooney, recebeu seis indicações e lidera a lista, seguido por Nine, com cinco indicações. A premiação acontece em 17 de janeiro.

Melhor Filme Drama:
Avatar
The Hurt Locker
Precious
Up in The Air
Bastardos Inglórios

Melhor Diretor:
Kathryn Bigelow (The Hurt Locker)
James Cameron (Avatar)
Clint Eastwood (Invictus)
Jason Reitman (Up in the Air)
Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios)

Melhor Roteiro:
Neill Blomkamp (Distrito 9)
Mark Boal (The Hurt Locker)
Nancy Meyers (It’s Complicated)
Jason Reitman (Up in the Air)
Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios)

Melhor Atriz em Filme Drama:
Emily Blunt, (The Young Victoria)
Sandra Bullock (The Blind Side)
Helen Mirren (The Last Station)
Carey Mulligan (An Education)
Gabourey Sidibe (Precious)

Melhor Ator em Filme Drama:
Jeff Bridges (Crazy Heart)
Morgan Freeman (Invictus)
George Clooney (Up in The Air)
Tobey Maguire (Brothers)
Colin Firth (A Single Man)

Melhor Filme – Comédia ou Musical:
(500) Dias com Ela
Se Beber, Não Case
It’s Complicated
Julie & Julia
Nine

Melhor Atriz em Comédia ou Musical:
Sandra Bullock (A Proposta)
Meryl Streep (It’s Complicated)
Meryl Streep (Julie & Julia)
Marion Cotillard (Nine)
Julia Roberts (Duplicity)

Melhor Ator em Comédia ou Musical:
Daniel Day-Lewis (Nine)
Matt Damon (O Informante)
Robert Downey, Jr. (Sherlock Holmes)
Joseph Gordon-Levitt ((500) Dias com Ela)
Michael Stuhlbarg (A Serious Man)

Melhor Filme Estrangeiro:
Barria
Abraços Partidos
The Prophet
A Fita Branca

Melhor Atriz Coadjuvante:
Mo’Nique (Precious)
Vera Farmiga (Up in The Air)
Anna Kendrick (Up in The Air)
Julianne Moore (A Single Man)
Penelope Cruz (Nine)

Melhor Ator Coadjuvante:
Christoph Waltz (Bastardos Inglórios)
Matt Damon (Invictus)
Woody Harrelson (The Messenger)
Christopher Plummer (The Last Station)
Stanley Tucci (The Lovely Bones)

Melhor Animação:
A Princesa e o Sapo
Up – Altas Aventuras
Coraline
Tá Chovendo Hambúrguer
O Fantástico Sr. Raposo

Melhor Canção:
“Cinema Italiano” (Nine)
“I Want to Come Home” (Everobody’s Fine)
“I Will See You” (Avatar)
“The Weary Kind” (Crazy Heart)
“Winter” (Brothers)

Melhor Trilha Sonora:
Michael Giacchino (Up – Altas Aventuras)
Marvin Hamlisch (O Informante)
James Horner (Avatar)
Abel Korzeniowski (A Single Man)
Karen O, Carter Burwell (Onde Vivem os Monstros)

Bem, os destaques vão para Sandra Bullock e Meryl Streep, ambas com duas indicações cada. Bullock fazendo ainda mais diferença ao ser indicada tanto como melhor atriz drama quanto melhor atriz de musical ou comédia, o que não deixa de ser surpreendente, pois não é todo ano que vemos a atriz na lista das melhores.

O sucesso de Up in the Air já era esperado, diferentemente de Nine, que ficou de fora dos prêmios de melhor filme, direção e roteiro, e já pode/deve ser considerado dúvida na lista do Oscar.

Fiquei duplamente feliz e empolgado: primeiro com as indicações de Bastardos Inglórios (filme, direção, roteiro e ator coadjuvante), mantendo Tarantino vivo para o Oscar; segundo pela indicação de Marion Cotillard (fraco por atrizas francesas, será?) como melhor atriz musical ou comédia, situação complicada já que temos Streep em dose dupla.

Como não poderia ser diferente, o Globo de ouro tem lá suas escolhas precipitadas: Julia Roberts como melhor atriz por Duplicity? Complicado...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um pouco de Mélanie Laurent


Há cerca de duas semanas, após assistir Bastardos inglórios, começei a me interessar por uma atriz francesa até então desconhecida para mim, Mélanie Laurent, a doce e vingativa Shoshanna. Para minha felicidade a moça já havia feito bastante filmes franceses e nem era um rostinho tão desconhecido assim, pelo menos por lá, levando-se em conta os dois prêmios que faturou: o Romy Schneider (prêmio destinado para atrizes de revelação na indústria cinematográfica francesa, que já premiou nomes como Juliette Binoche e Vanessa Paradis) e um César de atriz mais promissora. Após inúmeras buscas e alguns contatos, cheguei até uma jóia perdida de 2006: Não se preocupe, estou bem! (Je vais bien, ne t'en fais pas).

O filme traz como personagem principal Elise (Mélanie Laurent), uma garota de 19 anos que após um tempo na Espanha retorna para casa e fica sabendo que seu irmão gêmeo, a quem sempre foi muito agarrada, fugiu de casa após uma séria briga com o pai. Sem saber o que de fato aconteceu em casa e principalmente pela falta de notícias do irmão, Elisa vai ficando cada vez mais debilitada e acaba adoecendo. O filme passa a ser dividido em duas partes: todo o drama de Elise numa clínica pisiquiátrica até descobrir respostas do irmão e o momento em que ela parte à procura do mesmo. Em contraste com tudo isso uma leve e bela trilha sonora composta por Nicola Piovani, o mesmo de A vida é bela.


O que mais me chama atenção no cinema francês é a humanidade de seus personagens, toda a carga dramática que carregam consigo, fazendo parecer que estamos de fato vivendo tudo aquilo, e cinema é isso. O descontentamento entre pai e filho na trama é tão real, as conversas na mesa de jantar são tão convincentes que de algum modo temos certeza que já vivenciamos um pouco daquilo em nossas casas. São entre cenas simples e diálogos convencionais que o filme agrada, e muito. A interpretação de Mélanie é sublime, e continuo dizendo que a menina consegue falar com os olhos, e que olhos. Pode parecer papo de fã e tudo mais... O que não é, pois foi a partir desse filme que ela alcançou os prêmios de revelação, que, por si só, já dizem muita coisa. Outro destaque do filme é o ator Julien Boisselier, par romântico de Elise, bela interpretação.

Uma história de perdas, mas principalmente de ganhos, onde nos perguntamos até que ponto vale lutar por uma família? Até onde o homem é capaz de ir sem reconhecer seus erros?


Num dia desses, fuçando algumas das comunidades de cinema espalhadas pelo orkut, me deparei com um comentário sobre Mélanie que vale a pena levar em frente:

"Essa menina, Mélanie Laurent, é simplesmente linda. Permitam-me viajar: se Kieslowski estivesse vivo e filmando, não perderia a oportunidade de fazê-la estrelar algum filme dele."
(Marcelo, da comunidade Cinema europeu).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Tarantino em sua melhor forma.

Sabe aquela sensação boa que você tem após um filme, de que tudo valeu a pena e que irá passar horas e horas pensando em cada cena, em cada diálogo, afirmando o qão maravilhoso foi aquilo tudo? Pois é, Bastardos Inglórios , o melhor filme de 2009, nos proporciona essa sensação.

Vale lembrar que para os amantes de segunda guerra mundial talvez a produção não agradará muito, pois Tarantino brinca com a história, distorce a história, inverte a história, e a transforma em genial e nos faz ter certeza de que ele é "O Cara".


E o faz de conta começa quando um bando extremamente violento, liderado por um americano começa a exterminar nazistas numa França ocupada. Fazem parte do grupo de Aldo Reine (Brad Pitt, sempre convincente), Donny "Urso judeu" Donowitz (Eli Roth, pupilo de Quentin e responsável por o albergue), Hugo Stiglitz (Til Schweiger, de Rei Arthur) e Omar Ulmer (Omar Doom), especialistas em assassinar nazistas de inúmeras formas. A cena em que um oficial nazista aguarda sua sentença de morte ao som de Ennio Morricone, com direito a closes e a Eli Roth segurando um bastão, é extremamente Tarantinesca: chove violência.

A trama se desenvolve e dois personagens ganham importância e acabam de alguma maneira ofuscando os bastardos:


Christoph Waltz (que já tem o nome circulando em algumas premiações e para mim, sem a menor duvida, dono da estatueta de melhor coadjuvante) o oficial nazista Hans Landa, sujeito frio e calculista que parece sempre estar a um passo a frente de seus desafetos, é o nome do filme com certeza e suas falas, onde o sarcasmo reina, é de uma inteligência única. "Essa escolha foi no bingo".

Outro personagem que brilha é o de Shoshanna, um rostinho francês desconhecido até então, Mélanie Laurent, ótima atriz, com uma expressão que a tempos não via, E VIVA O CINEMA FRANCÊS! Shashanna pode-se dizer que é a personagem mais importante, pois sua história se desenvolve já no início, quando a jovem vê sua família sendo assassinada pelos homens de Landa, aliás, a cena do reencontro dos dois é magnífica, o olhar frio que Mélanie esboça consegue mostrar o desespero que a personagem sente por dentro, algo maravilhoso, interpretação divina numa tomada de cena que, tenho a impressão, só Tarantino consegue criar.


Se eu fosse destacar todas as cenas memoráveis do filme acho que não sairia daqui, porém duas cenas se tornaram antológicas, capaz de igualar até com Uma Thurmam dançando em Pulp Fiction: Judeus e Nazistas bebendo num bar, jogando algo que até agora não sei se foi invenção de Quentin, genial, e a cena do cinema, em que Shoshanna e o alemão apaixonado Zoller (Daniel Bruhl, outro destaque do filme) se encontram pela última vez, com direito a uma das melhores trilhas de Morricone, un amico, do filme Revolver.

Para finalizar eu não podia deixar de comentar sobre a trilha sonora, composta quase toda por Ennio Morricone em outras épocas, pois não deu tempo do mestre criar algo novo devido a pressa de Tarantino em lançar o filme em diversos festivais. Temos músicas de filmes como Álamo e Um dólar furado, clássicos do faroeste, aliás, Tarantino definiu seu filme como um spaghetti western feito com a iconografia da 2ª Guerra. O filme conta também com a grata surpresa de "Cat people", do David Bowie numa cena que dispensa comentários... Como eu amo Mélanie Laurent.


O melhor filme de 2009 sem dúvida, mas vou mais além e o coloco com o melhor filme dos últimos anos. Palmas e mais palmas para Quentin Tarantino, um verdadeiro bastardo.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Paranormal apenas no lucro.





Não é mais surpresa para ninguém filmes de baixíssimo orçamento arrecadarem fortunas nas salas de todo o mundo. Recentimente tivemos o espanhol Rec, e é exatamente no gênero terror que produções assim levam milhares de pessoas ao cinema. Vale lembrar que tudo começou a cerca de dez anos, com Bruxa de Blair, que aliás, se assemelha bastante com Atividade Paranormal.

O custo da produção foi de míseros 11 mil dólares, bancados pelo próprio diretor, o israelense Oren Peli. Os atores centrais levaram apenas 500 dólares para mostrar serviço (há quem diga que pelas atuações até que saiu caro, o que discordo e acho que nosso casal fez bem o dever de casa), o restante do dinheiro foram para os equipamentos, comida ee iluminação. Nessa brincadeirinha toda a produção já arrecadou mais de 200 milhões de dólares em todo o mundo. Paranormal ou não?

Mas o que faz de Atividade paranormal o melhor terror de todos os tempos?



Talvez todo o marketing em cima do filme: trailer mostrando platéias aos prantos, a fama de filme mais assustador de todos os tempos, mantida pelos fãs (que já não são poucos e entendo porque já fui um deles, com Bruxa de Blair), e a idéia central que é no mínimo interessante e curiosa: o que acontece em nossos quartos quando estamos dormindo? A premissa segue por aí...

Um casal adquiri uma câmera ( destaque para o garotão que parece estar vendo um equipamento desses pela primeira vez na vida, chega a ser constrangedor a emoção do sujeito, e olha que na trama estamos em 2006) na expectativa de filmarem sua casa atrás de fenômenos paranormais que eles julgam existir no local. A coisa começa a complicar quando decidem pôr a câmera no quarto, de frente para a porta escancarada ("Vamos lá, entrem!"). Confesso que curti as primeiras noites e todo o clima que rolava quando o casal se deitava. A cena em que a garota se levanta no meio da noite, ficando quase duas horas em pé, olhando para o cara dormindo, é assustadora. Mas dalí o filme parece se arrastar, se torna repetitivo e não assusta. Cheguei a ficar exausto com a maldita câmera no quarto. O *final do filme é decepcionante (até nisso lembra seu antecessor), sem cabimento e nos faz refletir se não havia um jeito melhor de finalizar a coisa toda.



Numa época escassa de boas produções do gênero, Atividade paranormal é sim um bom filme de terror. Boatos afirmam que a PlayArte já pensa numa sequência, não acredito muito devido o desfecho do filme e como um bom fã de Bruxa de Blair, não arriscaria.

* Vale lembrar que o final nos cinemas (cuja idéia foi de Spielberg, fã da trama) não é o mesmo do filme baixado na net, que por sinal consegue ser pior que o desfecho exibido nas telonas. Consegue imaginar?